23:A CÍTARA por jPanda


Bom dia, Exmo Sr. Dono da Casa de Instrumentos Musicais supracitada ,
É o seguinte:
Eu sou professor de Musica (especi. em Cordas , espec. em "dedilh." , espec. em instrumentos antigos- Idade Média , espec. na musica que acompanhava as cantigas de amor e de amigo- cítaras, alaúdes, etc).
E, aconteceu-me o seguinte: estava a dar uma aula, aqui há semanas e caí. Tropecei na flauta do meu sobrinho e caí em cima duma cítara! Esmaguei a cítara. Desloquei um braço. Ainda tive de ouvir o riso contido dos alunos e o riso solto do meu sobrinho.
Bom: aquela cítara valia para mais de 34500€... Estou deprimido, estou de rastos.
Há cerca de meio ano, fui à vossa casa, à procura de um violino: fui excelentemente atendido. Lembro-me que até estive 2h a tocar Blubert ( o moderno jamaicano, que recentemente actuou nos Olivais e deixou uma dúzia de pessoas de boca aberta...). O instrumento era um primor. Ainda para mais, a minha irmã Marta aprendeu tudinho com esse violino.
Nesse dia, eu, que sou extremamente supersticioso ( não sei explicar porquê, mas SOU ), fui imediatamente esfregar o violino em rosas brancas ( como se fazia na antiga Viena ) e deitei-me em relva de barriga para baixo a assobiar o concerto para piano 23 do Mozart ( coisa minha...).. Bom: abençoei "à minha maneira" ( como dizem os «Xutos» ) o violino.
Mas a cítara.... Aí é que entra o diabo, caraças!, com a breca!... Eu falei aí na loja sobre as cítaras e tal ... E, não é que, no momento em que eu dizia "O grande trovador, Pero Miogo, foi à corte de.....e o seu acompanhante, Vaz do Hei-de Sá Vaz dedilhou a cítara que levou o nobre Nuno Gama à loucura...", toca-me o telemóvel, e era o meu sobrinho a dizer: "Tio, vem depressa ao Colégio, que eu não me sinto bem para ir às aulas da tarde..."
Bem: aquela coincidência foi um choque brutal para mim: para um supersticioso como eu, aquele momento ficou-me na cabeça como um eco horrível de mau agoiro...
A cítara acabei por comprá-la num leilão em Monção, através da vossa casa. Mas, acredite: aquela cítara falava... E mais não digo...
Gostava muito que me reconstituíssem a cítara, peça a peça, pedaço a pedaço... Eu pagarei o que for preciso. MAS: mal fique reconstituída, logo irei com ela às rosas brancas e porei o meu sobrinho a cantar a «Canção de perdão à Cítara", de ( curiosamente ) Blubert.
Aguardando resposta, conselhos, orçamento
Atenciosamente,
Mário Dias

Bom dia Sr. Mário
Agradecemos a suas simpáticas palavras para o atendimento que teve aqui na nossa loja e damos também os parabéns pela engraçada construção da sua história.
Vamos entrar em contacto com os técnicos de reparação que trabalham directamente connosco para aferir da possibilidade de reparação do seu instrumento, embora qualquer resposta seja sempre sujeita a uma avaliação final (com o instrumento na mão) pelo técnico.
Entretanto poderá trazer o seu instrumento a qualquer uma das nossas lojas (Rua da Madalena ou Entrecampos).
Despedimo-nos desejando melhor sorte para futuros infortúnios.
Saudações Musicais
Raúl

Bom dia, caro Sr Raúl,
Desde já expresso o meu obrigado pelas suas palavras de cuidado para com o meu assunto, delicado e, creio, de complexa resolução ( dado o cariz do instrumento: antigo, raro, precioso, lindo, feito à mão, ... um autêntico sedutor das "amadas" ( ou dos senhores feudais delas, que eram bajulados pelos trovadores para ascenderem na classe nobre ).
Desculpe falar assim: mas vêm-me as lágrimas quando falo na minha cítara... Todo o seu estudo foi toda a minha vida.... Gastei uma fortuna no leilão... Sou muito místico pela Idade Média, pelas cantigas dos trovadores.... E, como já referi, sou deveras supersticioso...
Por isso: peço-lhe desde já ( e não leve a mal ! ) que jamais me deseje «sorte para futuros infortúnios» !! Isso dá azar! Repare na frase: «sorte para futuros infortúnios» - pode entender-se: « que tenha infortúnios!», e mais: « que tenha infortúnios melhores!». Eu sei que o Sr Rui não deve estar dentro do mundo da superstição ( que remonta à antiguidade...) como eu; percebo isso perfeitamente, e respeito. Mas essa frase é da "magia negra". Entende? Não me leve a mal, estou só a ser quem sou, a ser transparente.
Quanto ao instrumento: claro que o levarei à loja ( como se fosse um ferido de guerra! ). A avaliação final do técnico não invalida que o mesmo, sendo técnico, me dê uma ideia mínima do custo da reabilitação do "sedutor das amadas"... Uma coisa quero desde já acertar: o relógio! Não se ria Sr Rui: eu na quinta-feira, quando aí for á loja, explico...
Esperando resposta, info, e confirmação do dia,
Muito atenciosamente,
Mário Dias (Professor de Música, secção cordas, especialização cordas antigas, investigação na época medieval).

2 comentários:

Renato Ribeiro disse...

Amigo Dias...heheh...
Estou deliciado com os teus mails pa!!! realmente LOUCOS!!! que grande ideia amigo. Especialmente este deu-me vontade de ver a cara do gajo...lol... 1 abraço

Anónimo disse...

brutaalmente bom,
brutalmente!

ao sr Dias
abrços
Mi-G.